Sempre tem uma treta acontecendo em algum lugar. Dessa vez é em algum lugar da Dinamarca. Um dia bem ruim na vida de de dois policiais em um subúrbio em chamas. A história é sempre a mesma, mas há um bom pulso forte nesse filme. No final das contas, os papéis sempre meio que são os mesmos, não importa muito a posição geográfica.
Fear is the little death. Um filme gigantesco. Que sem perdão, deposita toda a sua escala no espectador. Pesado, melancólico, estupidamente bonito. Pensei um pouco em The Green Knight, quando o filme terminou. Pensei também que tarefa absurda tentar contar uma história visualmente expansiva, com cenas que parecem que de cinco em cinco minuto querem te soterrar. A trilha sonora é um metal pesado, pressionando as imagens como uma bateria colossal. Acho que já vivi algo parecido, mas não tenho certeza se foi com um filme.
Fico meio em dúvida sobre o quanto autoconsciente o Shyamalan é. Acho que vou decidir que ele sabe o que tá fazendo. Pois em alguns momentos, rola um lance com o áudio desse filme que só pode ser brincadeira ou uma escolha deliberada. Sem contar no diálogo, que causa uma sofrência meio gratuita. Mas fora isso, se eu tivesse uns doze anos de idade, ia curtir pra caralho ver esse filme e chegar e contar pra todo mundo ver na escola. Talvez seja isso, né. Um filme que não se se leva muito a sério, mas que mesmo assim é bem filmado e montado. É como um sonho, que tu não sabes muito bem se é um sonho engraçado ou triste.
Não lembro muita coisa do original, acho que a última vez que assisti foi em VHS ainda. Nunca entrei numas com o material do Clive Baker que foi adaptado para filmes. Ele é creditado como um dos roteiristas desse remake, que achei bem competente e funcionou muito bem. Chicago continua sendo uma baita cidade para ser filmada. A parte do horror mesmo, não sei se foi muito eficiente (algumas cenas parece que foram inseridas na pós-produção, após alguém dizer “gente tá faltando uma cena assim assado”), mas como drama sobre o ciclo infinito de demolição e construção que cidades muito grandes passam década após década, bom filme. Até mesmo a parte Velvet Buzzsaw foi interessante. Lendas urbanas eternas, fazendo o que sabem fazer melhor.
Bagulho é doido. James Wan sempre foi um diretor que sabe o que está fazendo, mesmo que esse “o quê” seja ruim (Aquaman, Furious 7), bom (The Conjuring, Death Sentence) ou simplesmente filme-pra-adolescente-se-divertir (Saw, continuações de Conjuring e Insidious). Malignant é meio indeciso como filme, pois há uma produção massa, que constrói uma cinematografia até rebuscada às vezes (numas meio “ei, faz meu filme parecer Se7en pfv”) – mas daí tudo fica meio zoado com a atuação do cast em cima dos diálogos totalmente dureza de se testemunhar e com a notória predileção por gore grotesco de Wan (em boa forma, mas de novo, meio indeciso no que quer “ser”). No final das contas, divertido pra carai, mesmo que ali pelo começo dê uma canseira leve. Um filme feito por um cara que certamente passou horas em seções de horror de videolocadoras, assistia aquelas sessões de filmes B da BAND e que até hoje se lembra dos filmes que viraram lenda na escola ali pela sétima série.
O que você quer ser quando ninguém tá prestando atenção. Ou: como diferenciar ser de ter. Esteticamente atraente, quase não parecendo um filme vindo dos Estados Unidos. Acho que li o poema quando ainda não sabia ler, então não sei dizer nada sobre a adaptação em si. Aprecio o tema e as poucas explicações. Ambição é uma merda. Boa trilha sonora. Patel em quase-chamas. Não escaparia de uma eventual reassistida. Que quando importar, estejamos prontos (e sempre importa).
A primeira vez que tentei assistir esse, não passei dos primeiros quinze minutos. Daí tentei de novo e meio que do nada eu só queria estar ali presente, assistindo cenas e mais cenas sobre essas doideras que estão acontecendo em uma cidade muito pequena. Um diretor a se acompanhar.
A primeira vez que assisti Lake Mungo, nem sabia o que tava fazendo (ainda bem). Dia desses assisti ao crocante blu ray e acabou por ser outro filme, quase. Perdeu a aura de filme para TV e revelou um filme que claramente estava anos à frente dos seus pares. É como um Blair Witch que envelheceu muito bem. O diretor nunca mais fez outro filme, alimentando fortemente a aura de lenda urbana que Lake Mungo parece/deveria ter.
Na sincera, achei que era um documentário quando comecei a assistir. E digo isso como elogio, pois foi somente depois de um tempo que saquei que era ficção. Um fime triste para cacete, que ressoou de forma brutal comigo. Uma dureza de vida, de filme, de tudo. O tipo de filme difícil de recomendar, mas que fica marcado não só pela impressionante capacidade técnica, mas pela sensibilidade fundamental ao narrar uma bad trip incomensurável.
Belo filme, com mão firme no minimalismo estético sem cair na vibe teatral. Possui uma conexão direta com filmes como Diary Of A Country Priest, do Bresson, e Winter Light, do Bergman. Mas como esses filmes já possuem várias decadas de vida, talvez seja bom ter First Reformed disponível em serviços de streaming hoje em dia. Os temas são os mesmos, a dor também – os tempos é que são diferentes mesmo. Ethan Hawke em seu estado mais bruto, ainda que sensível. Algumas cenas ficam queimadas na minha cabeça. Ser um bicho humano é uma treta infinita. Destaque para a trilha do Lustmord, uma boa surpesa.