The Bear, S04.

O espaço criado na temporada anterior cumpriu a sua função. Os diálogos caminham até algum lugar, as conversas difícieis nem sempre terminam em gritaria. Há um progresso notável nos personagens. O que não há é tempo. Algumas decisões terão que ser tomadas, feliz ou triste. Se bem que o saldo aqui parece ser mais feliz. Ou contente. Ou positivo. Continua sendo uma série linda, que consegue arrancar novas belas cenas das locações que já conhecemos bem (e vários momentos bons recheiam os episódios, como logo no primeiro da temporada – e aquele episódio no final, bicho, que lindeza). Mas principalmente: o roteiro. Mesmo que o elenco esteja muito à vontade, é o roteiro que brilha em vários momentos. Deixa na tua cabeça frases que poderiam até me servir, se eu, assim como os personagens, pudesse sair da minha própria frente. Essa temporada me deu um sentimento de Tudo Bem. Tudo bem mudar de ideia, tudo bem não querer mais fazer algo, tudo bem não sentir amor. Tudo bem sentir apenas amor. Nesses anos assistindo The Bear, resistindo, aprendendo, observando e espelhando a minha própria experiência em show de televisão, saquei que é sempre um turno por vez, um dia, um episódio. Olhar pra frente, mas não muito. E no final, fica tudo bem.

28 Years Later, 2025.

Um dos primeiros filmes que assisiti em DVD, o 28 Days Later (excelente título BR: Extermínio). Naquela época, antes do boom do gênero zumbi em todas as plataformas, filme moderno de morto-vivo era o remake de Dawn Of The Dead (Zack Snyder nunca superou) ou esse. Sempre gostei, achava um filme diferente sem saber por quê. Havia um sentimento de que não era possível retornar à normalidade depois de tê-lo assistido. Veio o 28 Weeks Later e bateu forte também, mas não envelheceu da mesma forma (apesar de ter o melhor script dos dois filmes). O tempo, sempre ele, fez do lance de correr de morto-vivo algo mainstream. As décadas exauriram o tema, deixando alguns petardos como algumas temporadas de Walking Dead e a suprema Black Summer. Me tornei um cara que nem busca mais esse tipo de filme. Até me ver na sala de cinema em um domingo pra mais um. Contudo, não me deu medo, apreensão nem nojinho. Fora alguns visuais muito do seu caralho, o roteiro engata algumas boas ideias mas não consegue se render ao experimentalismo fundamental para esse tipo de história (só ver o que o Alan Moore fez em Crossed 100 years, pra ver o quão fundo o buraco pode ser). Dormi aqui e ali. Apreciei algumas coisas, deixei outras passarem. A vida após a morte nunca me pareceu tão lugar comum. Talvez seja isso mesmo, com o tempo as coisas se tornam… normais.

The Studio, S01.

Uma metralhadora de cinismo e ódio virada aos estúdios, produções, público, a coisa toda. Todavia, contudo, entretanto: tem um monte de piadas do caralho ali, junto com oners que fazem a tua cabeça rodopiar. Não tem como ser um nerd de filmes e não cair nessa. Tem um elenco em chamas, tem candura por uma ideia de Hollywood que talvez nunca existiu. Alguns diálogos que parecem apenas encher linguiça ficaram na minha cabeça dias, semanas depois. Depois de todos os shows que Rogen e Goldberg fizeram juntos, parece que esse foi o que escolheram para cobrar todos os favores que podiam. Os episódios são recheados até o talo de histórias reais, cameos e fatalmente, coisas erradas. Do jeito que deveria ser.

Mountainhead, 2025.

A comum, porém falha, relação entre poder e dinheiro e ser inteligente, analisada pelo mestre da área, Jesse Armstrong. Tu sabes como vai ser, depois de todas aquelas temporadas da excelente Succession. O bagulho é sempre bom. Uns bilionários tapados na esfera pessoal, todavia incrivelmente poderosos na esfera profissional;, causando tretas pelo mundo enquanto passam um final de semana em um retiro na neve (baita locação, aliás). Difícil não pensar em Silicon Valley (a série), de onde vem vários detalhes que peguei durante o filme. O filme não chega a engatar bem (não tanto quanto aquele do Sam Esmail aliás), mas serve como um bom passo para Armstrong conseguir outros projetos mais complexos. Espero que ele continue fazendo filmes. Se ele conseguiu filmar esse Mountainhead (nome horrivelmente apropriado) em um mês, o futuro parece promissor. Que venha.

Final Destination: Bloodlines, 2025.

Numa tarde de domingo perfeita pra curar uma ressaca: um vape com sabor de sorvete, pipoca, uma garrafa de cerveja e uma dúzia de mortes em CGI que explodem em glorioso gore na tela e te fazem lembrar de: DVDs alugados, filmes assistidos uns 25 anos atrás, solitário na tela de 29 polegadas que sobrou e acabou ficando no teu quarto. Ainda estamos aqui, assistindo uma baboseira bem feita e engraçada (porque tem que ser, pra ser massa), rindo na hora errada e fatalmente se divertindo.

Havoc, 2025.

O meu ator jiu jitero favorito passa o filme todo andando como quem decidiu rolar uns rounds a mais com o campeão mundial de 19 anos que toda academia de bjj responsa tem. Vida dolorida. Tem também Timothy Oliphant como vilão, o que é só excelência pura. Mas o que tem mais mesmo é pancadaria dos infernos (todo mundo sabe brigar nesse filme), tiro pra caralho (ninguém parece pegar numa arma sem conseguir esvaziar o clip inteiro – num arroubo de hong kongismo tardio, Gareth faz de todas a cenas de tiroteio um interminável carnaval sangrento) e carros de CGI que se movem como um cavaleiro do zodíaco. É uma desgraceira que fica entre o exploitation e o quase-sério. Não é um filme muito bom fora do festival de stunts doidera, mas como foi divertida aquela cena do nightclub, ver Tom Hardy mandando um single leg é massa demais.

Blood Incantation, 04/05/25 – TivoliVredenburg, Utrecht.

Donos do meu disco favorito do ano passado, o Blood Incantantion tava jogando em casa pra mim. Aí foram e meteram o disco todo duma vez no setlist, sem miséria (mais umas três músicas antigas pra fechar o show). Cinco estrelas. A sala do TivoliVredenburg onde tocaram estava sold out (esse foi um show extra aliás, que colocaram depois do primeiro vender rápido demais), camisetas de Pallbearer, Carcass, Tool e semelhantes em todo lugar. Som potente batento sem perdão, pedindo pra tu colocares plugs de ouvido. Um show quase intimista de heavy prog madness. Nada como riffs crocantes e tecladeira comendo solta num domingo à noite. Tem dias que um pouco de headbanging ajuda o cara demais, bicho.

Sinners, 2025.

Um filme desses num sábado à noite, bicho. Tava neio desconfiado, mas tinha uma promessa de que haveria blues da perdição e pancadaria. Decidi encarar de boa. Meio dureza encarar dois Michael B. Jordan, mas quando o blues do capeta começa, tudo bem. Bagulho fica bom e às vezes até bonito pra carai. Um filme improvável, até, mas divertido até o osso. O tipo de blockbuster raro hoje em dia.

Kamasi Washington, 20/04/25 – Paradiso, Amsterdam.

Um Paradiso sold out. Não só isso, como: festivo, empolgado, sorridente. Uma banda cheia de pesos pesados que não amaciaram. Foram umas oito músicas só, mas com a saraivada de solos constante, fácil perder a conta. Acho que nunca tinha visto o Paradiso se divertindo tando assim. Nada como um heavy metal jazz para encerrar um domingo de Páscoa. Sentado ali nas beiradas, meio que espiando uma banda dessas trabalhar, tudo fica correto.

Black Bag, 2025.

Se tu olhares os, digamos, dez ou doze últimos filmes do Soderbergh, tu vais perceber que o cara mestrou o formato de filme de 90 minutos. Atualmente, talvez não tenha ninguém que consiga entregar quase todo o ano um (no mínimo) assitível e interessante filme que nem chega perto de cruzar a barreira das duas horas. Um mestre que sabe o que quer. Dessa vez, filme de espião (antes teve filme de terror, de hacker, de gangster velho, de escritor velho, de esporte, de treta financeira, de prisão, biografia etc – e uns Magic Mike aqui e ali) com Cate Blanchett e Fassbender em boa forma (ela muito mais, aliás) e uma vibe de filme que se leva a sério, mas não muito. Boa assistida, com direiro à arquitetura excelente aparecendo em várias cenas. Mais uma pedra do mestre.