One Battle After Another, 2025.

Talvez a última vez que um blockbuster foi um filme assim tenha sido o Pulp Fiction. Sem muito exagero, na moral: um filmão, que ainda é pessoal e que ainda se garante sem muitos efeitos especiais – que te segura pela duração toda, que te puxa pra dentro de um túnel conspiratório convoluto e resignado e fatalmente engraçado. Filme cinco estrelas, bróder. Quando aparece o Benicio, o bagulho já tá ganho. Uma doidera que vira road movie, que vira filme de espião, que vira drama. Uma batalha por vez, vencendo quase todas ou deixando material suficiente pra gente ir lá e vencer as que o filme não conseguiu. Eu não sabia que precisava de um filme de espião do PTA, mas ainda bem que ele foi lá e fez. O abraço que, o também grande, Licorice Pizza nos deu se torna um punho cerrado nesse.

Dangerous Animals, 2025.

O nosso bróder Sean Byrne de volta. Com o seu gore bruto, predileção por desgraceira e tons ameaçadores de treta em todos os cantos. Um pouco comedido (é um filme de subgênero dentro de um outro subgênero), respeita algumas convenções e, como todo bom autor de horror, esmaga outras com intenção e criatividade. Mais um filme difícil de recomendar para não-iniciados. Mas, para nós: é disso que estamos falando quando queremos um filme de turbarão hardcore. Se tu gostas dos outros dois filmes dele, é jogo ganho. Se não, boa sorte e a gente se vê do outro lado.

Magnolia, 1999 [35mm].

Antes: eu tinha 12 anos, vasculhava as locadoras de Castanhal, interior do Pará. Com uma revista Set na mãos, ia pegando tudo que os resenhistas e colunistas falavam sobre. Peguei a fita VHS dupla de Magnolia e me tranquei em meu quarto, que continha o luxo de um videocassete velho e uma TV só minha. Era onde eu triturava filmes, dias a fio, toda noite. Não raro, os filmes me trituravam também. E mesmo imberbe, tentava prestar atenção (tinha algo nesses filmes). Talvez Magnolia foi um dos que me apresentou o caos e pouco sentido que a existência tem. Desde então, esse sentimento nunca me abandonou. Será que eu já chorei assistindo Magnolia?
Agora: eu tenho várias décadas a mais de vida. Entrei em um sábado no Kino, um cinema que tem um projetor raro, de película. Tão fazendo The Complete Paul Thomas Anderson. O filme começa e parece querer me triturar de novo, mesmo após todo esse tempo. Deixei. O print de 35mm brilhava como só filmes dessa época conseguem. O filme me atravessa, intenso. Tudo que não sabia, tudo que não entendia, me atinge agora. Mudei. Tendo vivido algo mais, o filme se abriu de forma diferente (e que saudade eterna do Philip Seymour Hoffman, e que incrível a Juliane Moore, e que doidera é viver). O caos e pouco sentido da existência são a minha casa agora. Chorei assistindo Magnolia.

28 Years Later, 2025.

Um dos primeiros filmes que assisiti em DVD, o 28 Days Later (excelente título BR: Extermínio). Naquela época, antes do boom do gênero zumbi em todas as plataformas, filme moderno de morto-vivo era o remake de Dawn Of The Dead (Zack Snyder nunca superou) ou esse. Sempre gostei, achava um filme diferente sem saber por quê. Havia um sentimento de que não era possível retornar à normalidade depois de tê-lo assistido. Veio o 28 Weeks Later e bateu forte também, mas não envelheceu da mesma forma (apesar de ter o melhor script dos dois filmes). O tempo, sempre ele, fez do lance de correr de morto-vivo algo mainstream. As décadas exauriram o tema, deixando alguns petardos como algumas temporadas de Walking Dead e a suprema Black Summer. Me tornei um cara que nem busca mais esse tipo de filme. Até me ver na sala de cinema em um domingo pra mais um. Contudo, não me deu medo, apreensão nem nojinho. Fora alguns visuais muito do seu caralho, o roteiro engata algumas boas ideias mas não consegue se render ao experimentalismo fundamental para esse tipo de história (só ver o que o Alan Moore fez em Crossed 100 years, pra ver o quão fundo o buraco pode ser). Dormi aqui e ali. Apreciei algumas coisas, deixei outras passarem. A vida após a morte nunca me pareceu tão lugar comum. Talvez seja isso mesmo, com o tempo as coisas se tornam… normais.

Mountainhead, 2025.

A comum, porém falha, relação entre poder e dinheiro e ser inteligente, analisada pelo mestre da área, Jesse Armstrong. Tu sabes como vai ser, depois de todas aquelas temporadas da excelente Succession. O bagulho é sempre bom. Uns bilionários tapados na esfera pessoal, todavia incrivelmente poderosos na esfera profissional;, causando tretas pelo mundo enquanto passam um final de semana em um retiro na neve (baita locação, aliás). Difícil não pensar em Silicon Valley (a série), de onde vem vários detalhes que peguei durante o filme. O filme não chega a engatar bem (não tanto quanto aquele do Sam Esmail aliás), mas serve como um bom passo para Armstrong conseguir outros projetos mais complexos. Espero que ele continue fazendo filmes. Se ele conseguiu filmar esse Mountainhead (nome horrivelmente apropriado) em um mês, o futuro parece promissor. Que venha.

Final Destination: Bloodlines, 2025.

Numa tarde de domingo perfeita pra curar uma ressaca: um vape com sabor de sorvete, pipoca, uma garrafa de cerveja e uma dúzia de mortes em CGI que explodem em glorioso gore na tela e te fazem lembrar de: DVDs alugados, filmes assistidos uns 25 anos atrás, solitário na tela de 29 polegadas que sobrou e acabou ficando no teu quarto. Ainda estamos aqui, assistindo uma baboseira bem feita e engraçada (porque tem que ser, pra ser massa), rindo na hora errada e fatalmente se divertindo.

Havoc, 2025.

O meu ator jiu jitero favorito passa o filme todo andando como quem decidiu rolar uns rounds a mais com o campeão mundial de 19 anos que toda academia de bjj responsa tem. Vida dolorida. Tem também Timothy Oliphant como vilão, o que é só excelência pura. Mas o que tem mais mesmo é pancadaria dos infernos (todo mundo sabe brigar nesse filme), tiro pra caralho (ninguém parece pegar numa arma sem conseguir esvaziar o clip inteiro – num arroubo de hong kongismo tardio, Gareth faz de todas a cenas de tiroteio um interminável carnaval sangrento) e carros de CGI que se movem como um cavaleiro do zodíaco. É uma desgraceira que fica entre o exploitation e o quase-sério. Não é um filme muito bom fora do festival de stunts doidera, mas como foi divertida aquela cena do nightclub, ver Tom Hardy mandando um single leg é massa demais.

Sinners, 2025.

Um filme desses num sábado à noite, bicho. Tava neio desconfiado, mas tinha uma promessa de que haveria blues da perdição e pancadaria. Decidi encarar de boa. Meio dureza encarar dois Michael B. Jordan, mas quando o blues do capeta começa, tudo bem. Bagulho fica bom e às vezes até bonito pra carai. Um filme improvável, até, mas divertido até o osso. O tipo de blockbuster raro hoje em dia.

Black Bag, 2025.

Se tu olhares os, digamos, dez ou doze últimos filmes do Soderbergh, tu vais perceber que o cara mestrou o formato de filme de 90 minutos. Atualmente, talvez não tenha ninguém que consiga entregar quase todo o ano um (no mínimo) assitível e interessante filme que nem chega perto de cruzar a barreira das duas horas. Um mestre que sabe o que quer. Dessa vez, filme de espião (antes teve filme de terror, de hacker, de gangster velho, de escritor velho, de esporte, de treta financeira, de prisão, biografia etc – e uns Magic Mike aqui e ali) com Cate Blanchett e Fassbender em boa forma (ela muito mais, aliás) e uma vibe de filme que se leva a sério, mas não muito. Boa assistida, com direiro à arquitetura excelente aparecendo em várias cenas. Mais uma pedra do mestre.

Longlegs, 2024.

Nada como ver um filme de terror que curte ser filme de terror, numa sala de cinema. É sempre massa estar compartilhando aquela doidera com um grupo de anônimos, de frente para uma tela imensa. Longlegs é cinematograficamente uma delícia, tu ficas vários momentos apenas apreciando a vibe, até esquecendo dos horrores todos que são te apresentados em cascata. Não sabia muito sobre o filme, de propósito. Gostei do satanismo desenfreado e da vibe noventista que me lembra ser criança e me auto amedrontar assistindo Arquivo X. Como é bom levar uns sustos, ver umas coisas novas e ter aquele sentimento de estar fazendo algo muito da hora, escondido na última sala, quase no porão, de um cinema.