Visão Vinte por Vinte [ou] Discos de 2024

All life is suffering that basks in nothingness
All life is temporary, what lasts is consciousness

Provável que tenha sido um dos anos em que mais ouvi música, diariamente. Uns quarenta minutos de bike por dia (ambient e country de manhã, com o ocasional black metal porque tem dias assim – stoner, techno e doideras na volta pra casa), oito horas na barbearia (me deixaram colocar música lá, agora já era – tem dia que só toco Charley Crockett e Helmet). Mais os dias de folga entornando discos após discos jogando Saturn – fui ajudado até pelo meu instrutor de Jiu-jítsu, que tem umas baita playlists de treino que serviram de trilha para o meu sofrimento favorito (tu tá lá sendo amassado, mas pelo menos Mdou Moctar tá torando na caixinha de som). Fui em shows quase todos os meses (escrevi sobre quase todos aqui) e no geral fui abençoado com uma existência cercada de música o tempo toda. Baita existência.

Disco do ano: sem erro é esse aí em cima do Blood Incantation, o Absolute Elsewhere. Disparado o disco que mais tive reações positivas ao falar sobre durante o ano, entre caretas denotando a crocância do lance e caras surpresas de quem não sabia que eles podiam fazer um disco assim. Diversão para a família toda, pros moleques do black metal carcomido, passando pelos jovens amantes do psych fedorento nosso de cada dia até chegar os metaleiros e progheads velhos como eu que curtem uma treta com sintetizador cada vez mais nessa longa e formidável vida.

Alex Albrecht – Allambie :: house, downtempo com ambient e uns sons meio natureza elegante vista através de janelas de vidro.

Cowboy Sadness – Selected Jambient Works Vol. 1. :: aulas de ambient ao vivo. como é bom o lance de banda de ambient.

36 – Reality Engine :: anos e anos de 36, sempre bom carregar um disco desses na coleção.

Arve Henriksen & Harmen Fraanje – Touch Of Time :: trompete do infinito e piano polar.

Mark Peters – Progress – como não se sentir caminhando em uma metrópole cyberpunk após fazer negócios suspeitos.

Kali Malone – All Life Long :: Kali continua sendo fundamental.

Molly Lewis – On The Lips :: praqueles domingos em que tu sentas na cama com o laptop após acordar, esperando tua gata acordar.

Trollsottet – Sorgebert & Evigheten :: dois discos de vibe perfeita pra quando tu precisas se preparar pras tretas da vida.

ScHoolboy Q – BLUE LIPS :: better climb out of that hole before you fuck up your blessings / ‘fore you realize that it’s over with and start to get dеsperate

Amaro Freitas – Y’Y – memórias que não sabia que tinha.

Bolis Pupul – Letter To Yu :: às vezes tu brisa num barulho longo, às vezes tem que dançar.

Men from S.P.E.C.T.R.E. – Magnetic Sunshine :: faz-se necessário, groove de balançar o queixo. bom pra ouvir indo ao mercado.

Frank and Tony – Ethos :: corretor de vibes essencial do ano. discão.

Mount Kimbie – The Sunset Violent :: qualquer banda que coloque o King Krule nos vocais é boa banda pra mim.

Shabaka Hutchings – Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace :: estar vivo tem dessas às vezes. um disco tipo esse aparece e te coloca onde tu precisas estar.

lb honne – present future / here there :: quantas vezes não me peguei ouvindo esse disco e pensando como é bom ter achado isso, é exatamente o que eu queria. chega arrepia o cara.

Shinichi Atobe – Ongaku 1 & Discipline :: o jovem mestre soltou um ep ali no começo do ano, muito foda, infinitos repeat e aí – bam um disco inteiro chamado Discipline, cheio de techno dubs da mais fina estirpe. Eterno.

Greg Foat & Sokratis Votskos – Live at Villa Maximus, Mykonos :: quando tudo dá certo e um disco ao vivo ganha uma vibe própria.

Bongripper – Empty :: cinco estrelas. Nothing Remains Forever Empty.

Vince Staples – Dark Times :: I’m probably finna go to Hell, but it don’t matter.

Thou – Umbilical :: tomaí essa pedrada meu camarada, Thou flertando forte com hardcore.

loscil – Chroma & Umbel :: um ano em que loscil solta dois discos é sempre um bom ano. um com Lawrence English e um solo. excelência sem limites.

Cristoph El Truento – Dubs From The Neighbourhood :: porque tem dias que o cara precisa daquele dub, do tipo familiar mais ainda diferente.

Jean Sibelius & Sergei Prokofiev performed by Janine Jansen & Oslo Philharmonic Orchestra under Klaus Mäkelä – Sibelius: Violin Concerto; Prokofiev: Violin Concerto No. 1 :: Jansen de volta e já manda um Sibelius mortal seguido de Prokofiev. Amassamento inclemente em forma de violino comendo solto e cortando todas as camadas da existência.

Ulcerate – Cutting the Throat of God :: Tu sabes como é com o Ulcerate, não tem muito papo. truculência corrosiva, antipatia caústica e dissonância como forma de arte.

NxWorries – Why Lawd? :: um daqueles discos pós-divórcio que te acertam em cheio (caso tu seja um divorciado sorumbático também). tem um pouco de tudo nesse disco – mas o mais importante: é o som de uns caras mordidos, tentando algo e meio que acertando em cheio.

Hello Meteor – The Oahu GP 2: Hyper Tropic :: tu sabes como é que é. coloca aquela camiseta que cai bem em ti, umas lunetas grossas, abre as janelas do carro branco e vai dar uma volta em Torremolinos.

adorável clichê – sonhos que nunca morrem :: meu coração quase não aguenta quando a vocalista Gabrielle engata umas frases aqui e ali. adolescência eterna, palpável. e a certeza que é impossível pra mim apaixonar-se por alguém que não fala português.

toe – NOW I SEE THE LIGHT :: um ano que teve até disco do Toe, irmão. saudades.

d.silvestre – D.Silvestre :: liga torta master. sabe aquele meme de que se tu se acha um artista vanguarda de música, é porque tu não conheces o que os moleques de 15 anos estão fazendo no Brasil. pode não ser o caso aqui, mas encaixa. experimentalismo hipnótico. abrasivo e intenso.

DJ Anderson do Paraíso – Paraíso Sombrio :: aqui é trevas e safadeza. a combinação cem por cento brasileira de cultura gótica com baile funk. dark pra caralho, mas de uma putaria descomunal. talvez o melhor disco brasileiro do ano.

Charley Crockett – $10 Cowboy, Chapter II: Visions of Dallas :: Prefiro esse ao volume I de $10 Cowboy, alguns b-sides, covers e versões. Que homem, meu cantor favorito atualmente.

Melt-Banana – 3+5 :: Pra quando tu tá sentindo falta de ser atropelado por uma banda japonesa.

Tristwch Y Fenywod – Tristwch Y Fenywod :: como não gostar desse disco? vibe imaculada. tu não faz ideia de nada, mas mesmo assim soa bom demais. me lembra a época que não entendia nenhuma língua além de português.

Los Bitchos – Talkie Talkie :: cumbia tá pra ser o novo punk faz um tempo já, e discos como esse do Los Bitchos aceleram o processo. a vibe latina/caribenha é o único futuro possível. Certamente trombei essas minas em algum lugar em Berlin nos últimos anos.

Jon Hopkins – RITUAL :: não tem muito o que dizer aqui. Jon continua sendo o teu melhor amigo na hora de tomar um psicodélico e deitar no chão e deixar o universo fazer o que tem que ser feito.

Nala Sinephro – Endlessness :: minha conversão para tiozinho do sintetizador tá a todo gás. acho que qualquer dia desses comprou um (inimaginável um tempo atrás). de qualquer forma, baita presente da Nala.

Oranssi Pazuzu – Muuntautuja :: apenas Pazuzu mermão. As manhãs desgraçentas de inverno precisam de um disco desse (também desgraçento). vida longa ao Oranssi Pazuzu.

Japandroids – Fate & Alcohol :: só pra me sentir jovem mais uma vez, por uns quinze minutos (tarefa que ano após ano fica mais complexa e difícil).

Blind Boy Paxton – Things Done Changed :: um disco de 2024 do mais puro blues acústico. precisamos.

Kendrick Lamar – GNX :: uma volta da vitória do maior artista vivo. um esculacho do começo ao fim. muito bom o método Kendrick de produção de discos: um pra eles, um pra mim. bem old Hollywood. esse, é pra nós, pros nossos carros, fones e boomboxes. um Rei.

Apodemus – Monotone :: o stoner nosso de cada dia. nada como terminar um dia longo de trampo, colocar Mechanism pra tocar e ter treze minutos de chapação pra te ajudar a desopilar.

Nils Frahm – Paris :: vi esse mesmo show, mas em Amsterdam. baita registro da treta que Nils se mete e consegue sair (aparentemente) intacto toda noite. lindo demais. recomendo também Day, que é Nils voltando um pouco ao piano.

Gaerea – Coma :: black metal que extrai tudo que pode de ti.

Fennesz – Mosaic :: enquanto estamos aqui, melhor aproveitar as manhãs tocando um pouco de Fennesz, porque merecemos.

Zach Bryan – The Great American Bar Scene :: If I’m lucky enough, I’ll have the courage to leave and go wherever my beatin’ heart tells me to go.