Discos de 2023 [ou] Na Linha Pontilhada Vou Indo, Indo, Indo

O ano dos antigos. Talvez essa tenha sido o tema de 23 [ou] só acaba quando termina. Resolvi esperar até o último momento pra fechar essa lista, coloquei todos os discos no shuffle do celular e adicionei alguns e removi outros nas últimas semanas. Deu bem certo, pois apareceram alguns que deixei passar e eu pude ter uma melhor noção de como o ano soou pra mim. Ah, também fiz uma playlist de tudo no spotify (menos uns discos que não apareceram pra mim aqui), tomae.

Submersion – Entrainment
Sentar para tomar um café bem cedo, antes do trabalho e me deixar afogar por esse disco, um dos prazeres do ano.

Kannabinõid – MASS
Capaz de ser o Disco Do Ano pra mim só porque me coça uma coceira que tenho há muito tempo: é possível ser inovador, divertido, doidera e muito pesado dentro da tag stonerdoom, tag essa que tem dezenas de releases nos últimos que não só te cansam como pouco te entretém, mas aí aparece um tipo esse e terraplana geral. Que disco.

Art Themen & Greg Foat – Off-Piste
Para dias de folga e agendas vazias.

Croatian Amor – A Part of You in Everything
O que acontece quando tu cresces ouvindo Burial todos os dias [ou] um artista ainda em plena ascenção.

Arooj Aftab, Vijay Iyer, & Shahzad Ismaily – Love In Exile
A beleza de ser experimental, assombrado e necessário.

Black Sky Giant – Primigenian
Um desses discos do começo do ano que se seguraram bem, uma banda que sabe demais.

JVXTA – Euston Blues
Ouvi bastante. Sempre curti essa área entre o deep house e o ambient, e o equilíbrio aqui é coisa de mestre. Como é bom encontrar discos como esse.

Larry June & The Alchemist – The Great Escape
I’m driving the whip so fast, I can’t control it / I’m fishtailin’ leavin’ Javier’s, I should’ve chauffeured.
Todo ano tem que ter uma produção do Al na minha lista, esse ano escolho essa.

Sean La’Brooy – There’s Always Next Year
Põe um chambre, faz um omelete num domingo de manhã com aquela colherada de catupiry extra, coloca esse disco. Fica tudo delícia.

Atmosphere – So Many Other Realities Exist Simultaneously
You better love yourself today because tomorrow will be harder. Obrigado por mais esse. Como tem sido bom ter todo ano um disco novo do Atmosphere véio.

a.s.o. – a.s.o.
Se esse disco me aparecesse numa dessas mega playlists de trip hop 90s do spotify, eu teria acreditado que era algo da era que eu simplesmente não conhecia. Esse duo australiano radicado em Berlim tem a manha. Acho que li alguém descrever que é como se o Portishead e o Massive Attack circa fim dos anos noventa colaborasse em um discão.

Jessy Lanza – Love Hallucination
Faz uma cota que a Jessey Lanza tá fazendo a dela. Esse disco me lembra olhar pro cd da Immaculate da Madonna na estante da casa de um amigo quando era moleque, lembra sutiã branco, lembra verões não vividos.

La Iglesia Atomica – Los Demonios Andan Sueltos
Supercabróns direto de San Juan. Meu stoner doom fuzzed out do ano. Assim como o Church of Misery, são também veteranos que decidiram mostrar pro mar de stoner bands que é assim que os antigos faziam.

Sofia Kourtesis – Madres
Um presente. De vez em quando temos o privilégio de testemunhar um artista fechando um círculo perfeito. Sofia não só faz isso, como cria uma ponte da américa latina pra Berlim enquanto te faz balançar.

King Gizzard and the Lizard Wizard – PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night: An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation
Curto um King Gizzard mas percebi que na minha coleção de discos só tenho os de metal deles. Não por acaso: são o bicho. Esse ano tivemos mais um desses, uma pedrada podre, cheia de bons momentos e uma mitologia doidera que embala tudo e te deixa ligadão.

Jungle – Volcano
O disco salvador de dias do ano. Como é possível que o Jungle nunca erra né, mesmo depois de todos esses anos. Os vocais desse disco são de fazer qualquer um sorrir.

Wayfarer – American Gothic
Acho que sempre quis um disco assim, que mistura aquele som empoeirado de americana amaldiçoada com o nosso atmospheric black metal de cada dia. A última vez que me senti assim foi talvez ouvido Howl do Black Rebel Motorcycle Club, um dos meus maiores discos de todos os tempos.

The Hives – The Death of Randy Fitzsimmons
Todo esse tempo que passou desde que começamos a ouvir Hives serviu só pra sedimentar que banda boa é um lance imortal. Obrigado pelo serviço prestado nessas DÉCADAS.

Jonny Nash – Point of Entry
Começa com uma guitarra e vai até o infinito. Um título perfeito pro que o disco é. Vai, que dá. Uma beleza.

Church of Misery – Born Under a Mad Sign
Uns sete anos depois do seu último disco, os veteranos do Church Of Misery voltam com uma liga tortíssima, pesada e cheia de calos. Doidera ser tão antigo na cena stoner doom (acho que eles começaram em 1995) que deu tempo de ver o lance morrer e renascer.

OZmotic – Senzatempo
Chamar o Fennesz pra tocar no teu disco. Lavar o ouvinte com som.

Hot Mulligan – Why Would I Watch
Tudo bem, nós temos Hot Mulligan, baby. Como é bom ser emo.

Dead Sea Apes – Rewilding
Uma desgraceira sem tamanho. Truculência e apavoramento vindo desse trio. Demorei pra ouvir esse, nas repeti demais.

Biosphere – Inland Delta
Um som característico, que tu sabes que é Biosphere logo de cara. Soa como se tu tivesses um dia de folga e antes de levantar da cama, decidisse voltar a dormir só pra sonhar mais um pouco.

Czarface – Czarficial Intelligence
I was raised less than a parsec from Geonosis / The mic you use it wrong like cops with police batons / Your feature song is trash so to even turn the speaker on is / Pointless like Nerf knifes, or the second B in bomb.
Assim me acostumo a todo ano ter um disco do Atmosphere, um do Alchemist e um do Czarface, época boa para se viver.

maya ongaku – Approach to Anima
Que todos os nossos sonhos tenham a trilha sonora de maya ongaku. Aquela vibe Morphine que aparece aqui e ali nesse belo disco é o que sempre me pega.

crimeboys – very dark past
Nem vou escrever nada: “Special Guest DJ & Pontiac Streator are crimeboys, here delivering a debut album volley of ambient jungle and trip hop dub paying homage to influences including Vangelis, Burial, Silent Hill and the putative effects of N ₂O.”. Te joga.

Spangle call Lilli line – Ampersand
Como um amigo que tu não vês há muito, mas que parece que sempre esteve ao teu lado. A internets me diz que essa banda se formou em 1988. Imagina viver uma vida inteira tocando esse som delicioso que o Spangle call Lilli line tem. Mantendo a vibe, sempre, Ampersand é mais um excelente disco numa discografia extensa e cheia de coisas boas. Ouvir a voz da Kana Otsubo é sempre um poderoso refresco mental.

Lee Gamble – Models
Decidindo fazer vaporwave da forma mais difícil, o que acaba sendo bom pra gente. Uma aula.

Lisabö – Lorategi Izoztuan Hezur Huts Bilakatu Arte
O Ezlekuak deles de 2017 é o tipo de disco que sempre acabo voltando pra ouvir. Um daqueles que tu gostas de graça. Esse ano, eles soam diferentes, mas ainda cabulosos e impressionantes. Se tu não manjas, é como se o Swans, Fugazi e Sonic Youth fossem morar em um castelo e decidissem ser uma banda só.

Kali Malone – Does Spring Hide Its Joy
Se liga quem tocou com a Kali nesse disco:
Kali Malone: Composition & Synthesis
Stephen O’Malley: Electric guitar
Lucy Railton: Cello
Vai com cuidado.

Laurel Halo – Atlas
Saindo de uma festa de madrugada, sentando numa praça nublada. Curando. Trilha sonora para aqueles momentos em que tu não sabes se o que tá acontecendo é um deja vú, sonho ou realidade.

Cavalera Conspiracy – Morbid Visions
Hehe. Desculpa. Regravando as podreiras que nós amamos, mantendo o sotaque arrastado. A arrogância da juventude encontrando o apuro da vida adulta. Divertido e errado, mas tudo bem.

Billy Woods – Maps
I will not be in the Green Room if it’s too lit / Could be at the local greasy spoon or Szechuan establishment. Billy sabe o que quer e como quer.

Overmono – Good Lies
Se aquele disco do Jungle salva dias, esse é mais pra pesar um dia que tá ainda tá na balança. Acho que em nove de dez vezes, vai pesar pro lado que tu precisas.

Explosions in the Sky – End
O fim segundo os antigos do post rock. Juntando a vibe OST em que eles tanto tramparam nos últimos anos com o mais puro e emocional som que só o EITS consegue fazer. Que todos os fins soem assim.

Ryuichi Sakamoto (坂本龍一) – 12
O adeus de Sakamoto, tal qual em um exercício de escrita, ele tentou se curar com música e quem se beneficiou também foi a gente:
“I had no idea what I was going to create, I just wanted to be bathed in “sound”. Até mais, mestre.