Discos de 2023 [ou] Na Linha Pontilhada Vou Indo, Indo, Indo

O ano dos antigos. Talvez essa tenha sido o tema de 23 [ou] só acaba quando termina. Resolvi esperar até o último momento pra fechar essa lista, coloquei todos os discos no shuffle do celular e adicionei alguns e removi outros nas últimas semanas. Deu bem certo, pois apareceram alguns que deixei passar e eu pude ter uma melhor noção de como o ano soou pra mim. Ah, também fiz uma playlist de tudo no spotify (menos uns discos que não apareceram pra mim aqui), tomae.

Submersion – Entrainment
Sentar para tomar um café bem cedo, antes do trabalho e me deixar afogar por esse disco, um dos prazeres do ano.

Kannabinõid – MASS
Capaz de ser o Disco Do Ano pra mim só porque me coça uma coceira que tenho há muito tempo: é possível ser inovador, divertido, doidera e muito pesado dentro da tag stonerdoom, tag essa que tem dezenas de releases nos últimos que não só te cansam como pouco te entretém, mas aí aparece um tipo esse e terraplana geral. Que disco.

Art Themen & Greg Foat – Off-Piste
Para dias de folga e agendas vazias.

Croatian Amor – A Part of You in Everything
O que acontece quando tu cresces ouvindo Burial todos os dias [ou] um artista ainda em plena ascenção.

Arooj Aftab, Vijay Iyer, & Shahzad Ismaily – Love In Exile
A beleza de ser experimental, assombrado e necessário.

Black Sky Giant – Primigenian
Um desses discos do começo do ano que se seguraram bem, uma banda que sabe demais.

JVXTA – Euston Blues
Ouvi bastante. Sempre curti essa área entre o deep house e o ambient, e o equilíbrio aqui é coisa de mestre. Como é bom encontrar discos como esse.

Larry June & The Alchemist – The Great Escape
I’m driving the whip so fast, I can’t control it / I’m fishtailin’ leavin’ Javier’s, I should’ve chauffeured.
Todo ano tem que ter uma produção do Al na minha lista, esse ano escolho essa.

Sean La’Brooy – There’s Always Next Year
Põe um chambre, faz um omelete num domingo de manhã com aquela colherada de catupiry extra, coloca esse disco. Fica tudo delícia.

Atmosphere – So Many Other Realities Exist Simultaneously
You better love yourself today because tomorrow will be harder. Obrigado por mais esse. Como tem sido bom ter todo ano um disco novo do Atmosphere véio.

a.s.o. – a.s.o.
Se esse disco me aparecesse numa dessas mega playlists de trip hop 90s do spotify, eu teria acreditado que era algo da era que eu simplesmente não conhecia. Esse duo australiano radicado em Berlim tem a manha. Acho que li alguém descrever que é como se o Portishead e o Massive Attack circa fim dos anos noventa colaborasse em um discão.

Jessy Lanza – Love Hallucination
Faz uma cota que a Jessey Lanza tá fazendo a dela. Esse disco me lembra olhar pro cd da Immaculate da Madonna na estante da casa de um amigo quando era moleque, lembra sutiã branco, lembra verões não vividos.

La Iglesia Atomica – Los Demonios Andan Sueltos
Supercabróns direto de San Juan. Meu stoner doom fuzzed out do ano. Assim como o Church of Misery, são também veteranos que decidiram mostrar pro mar de stoner bands que é assim que os antigos faziam.

Sofia Kourtesis – Madres
Um presente. De vez em quando temos o privilégio de testemunhar um artista fechando um círculo perfeito. Sofia não só faz isso, como cria uma ponte da américa latina pra Berlim enquanto te faz balançar.

King Gizzard and the Lizard Wizard – PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night: An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation
Curto um King Gizzard mas percebi que na minha coleção de discos só tenho os de metal deles. Não por acaso: são o bicho. Esse ano tivemos mais um desses, uma pedrada podre, cheia de bons momentos e uma mitologia doidera que embala tudo e te deixa ligadão.

Jungle – Volcano
O disco salvador de dias do ano. Como é possível que o Jungle nunca erra né, mesmo depois de todos esses anos. Os vocais desse disco são de fazer qualquer um sorrir.

Wayfarer – American Gothic
Acho que sempre quis um disco assim, que mistura aquele som empoeirado de americana amaldiçoada com o nosso atmospheric black metal de cada dia. A última vez que me senti assim foi talvez ouvido Howl do Black Rebel Motorcycle Club, um dos meus maiores discos de todos os tempos.

The Hives – The Death of Randy Fitzsimmons
Todo esse tempo que passou desde que começamos a ouvir Hives serviu só pra sedimentar que banda boa é um lance imortal. Obrigado pelo serviço prestado nessas DÉCADAS.

Jonny Nash – Point of Entry
Começa com uma guitarra e vai até o infinito. Um título perfeito pro que o disco é. Vai, que dá. Uma beleza.

Church of Misery – Born Under a Mad Sign
Uns sete anos depois do seu último disco, os veteranos do Church Of Misery voltam com uma liga tortíssima, pesada e cheia de calos. Doidera ser tão antigo na cena stoner doom (acho que eles começaram em 1995) que deu tempo de ver o lance morrer e renascer.

OZmotic – Senzatempo
Chamar o Fennesz pra tocar no teu disco. Lavar o ouvinte com som.

Hot Mulligan – Why Would I Watch
Tudo bem, nós temos Hot Mulligan, baby. Como é bom ser emo.

Dead Sea Apes – Rewilding
Uma desgraceira sem tamanho. Truculência e apavoramento vindo desse trio. Demorei pra ouvir esse, nas repeti demais.

Biosphere – Inland Delta
Um som característico, que tu sabes que é Biosphere logo de cara. Soa como se tu tivesses um dia de folga e antes de levantar da cama, decidisse voltar a dormir só pra sonhar mais um pouco.

Czarface – Czarficial Intelligence
I was raised less than a parsec from Geonosis / The mic you use it wrong like cops with police batons / Your feature song is trash so to even turn the speaker on is / Pointless like Nerf knifes, or the second B in bomb.
Assim me acostumo a todo ano ter um disco do Atmosphere, um do Alchemist e um do Czarface, época boa para se viver.

maya ongaku – Approach to Anima
Que todos os nossos sonhos tenham a trilha sonora de maya ongaku. Aquela vibe Morphine que aparece aqui e ali nesse belo disco é o que sempre me pega.

crimeboys – very dark past
Nem vou escrever nada: “Special Guest DJ & Pontiac Streator are crimeboys, here delivering a debut album volley of ambient jungle and trip hop dub paying homage to influences including Vangelis, Burial, Silent Hill and the putative effects of N ₂O.”. Te joga.

Spangle call Lilli line – Ampersand
Como um amigo que tu não vês há muito, mas que parece que sempre esteve ao teu lado. A internets me diz que essa banda se formou em 1988. Imagina viver uma vida inteira tocando esse som delicioso que o Spangle call Lilli line tem. Mantendo a vibe, sempre, Ampersand é mais um excelente disco numa discografia extensa e cheia de coisas boas. Ouvir a voz da Kana Otsubo é sempre um poderoso refresco mental.

Lee Gamble – Models
Decidindo fazer vaporwave da forma mais difícil, o que acaba sendo bom pra gente. Uma aula.

Lisabö – Lorategi Izoztuan Hezur Huts Bilakatu Arte
O Ezlekuak deles de 2017 é o tipo de disco que sempre acabo voltando pra ouvir. Um daqueles que tu gostas de graça. Esse ano, eles soam diferentes, mas ainda cabulosos e impressionantes. Se tu não manjas, é como se o Swans, Fugazi e Sonic Youth fossem morar em um castelo e decidissem ser uma banda só.

Kali Malone – Does Spring Hide Its Joy
Se liga quem tocou com a Kali nesse disco:
Kali Malone: Composition & Synthesis
Stephen O’Malley: Electric guitar
Lucy Railton: Cello
Vai com cuidado.

Laurel Halo – Atlas
Saindo de uma festa de madrugada, sentando numa praça nublada. Curando. Trilha sonora para aqueles momentos em que tu não sabes se o que tá acontecendo é um deja vú, sonho ou realidade.

Cavalera Conspiracy – Morbid Visions
Hehe. Desculpa. Regravando as podreiras que nós amamos, mantendo o sotaque arrastado. A arrogância da juventude encontrando o apuro da vida adulta. Divertido e errado, mas tudo bem.

Billy Woods – Maps
I will not be in the Green Room if it’s too lit / Could be at the local greasy spoon or Szechuan establishment. Billy sabe o que quer e como quer.

Overmono – Good Lies
Se aquele disco do Jungle salva dias, esse é mais pra pesar um dia que tá ainda tá na balança. Acho que em nove de dez vezes, vai pesar pro lado que tu precisas.

Explosions in the Sky – End
O fim segundo os antigos do post rock. Juntando a vibe OST em que eles tanto tramparam nos últimos anos com o mais puro e emocional som que só o EITS consegue fazer. Que todos os fins soem assim.

Ryuichi Sakamoto (坂本龍一) – 12
O adeus de Sakamoto, tal qual em um exercício de escrita, ele tentou se curar com música e quem se beneficiou também foi a gente:
“I had no idea what I was going to create, I just wanted to be bathed in “sound”. Até mais, mestre.

2022: HOW TO DISAPPEAR COMPLETELY [OU] QUE ANO BRÓDER [OU] MELHORES DO ANO

Godspeed You! Black Emperor – All Lights Fucked on the Hairy Amp Drooling
– o tipo de coisa que parece que nunca ia acontecer: versões digitais de uma das 33 fitas que o GY!BE fez pro primeiro disco deles em 1994 e jamais tinham caído online. um acontecimento.

Lord Elephant – Cosmic Awakening
– stoner doom blues do ano.

Czarface – Czarmageddon!
– felicidade em forma de:
You can feed me to the sharks, I’ll come back in a shark-skin suit
Hotter than hibachi sauce, wiping out your zombie horde

Silvana Estrada – Marchita
– ter um coração partido embalado por Silvana: motivos para se ter o coração partido.

Sault – AIR
– o nosso coletivo anônimo de r&b favorito atinge novos patamares, sedimentando o poder do produtor e capitão Inflo sob todas coisas musicais vindas da Inglaterra. o groove dá espaço para orquestrações absurdas, entregando um disco imenso, como sempre deveria ser.

Tim Bernardes – Mil Coisas Invisíveis
– fora do tempo e espaço, Tim tá na dele. jovem mestre em pleno controle da sua vibe.

Vince Staples – RAMONA PARK BROKE MY HEART
– várias vezes durante o ano precisei de um disco assim.

Soichi Terada (寺田創一) – Asakusa Light
– “…feelgood music that’s the aural equivalent of a dopamine rush at sunrise.”

Kendrick Lamar – Mr. Morale & The Big Steppers
– kendrick has been going tru somethin’. deixa o cara. aprecia e acompanha. um privilégio.

Charley Crockett – The Man from Waco
i’ll tell you something true
every little thing i do
i stay lonely all the time.

Raum – Daughter
– hardcore: “There are fragments of beginnings and a deep sense of loss.”

Kenny Beats – LOUIE
– now I can hold my head up high. fazendo jazz com trackpad de macbook. um doutor especialista trabalhando.

Curren$y & The Alchemist – Continuance
– ta da da ta da da.

Joey Bada$$ – 2000
you fuckin’ with the realest cat since Larry David.

Shinichi Atobe – Love of Plastic
– “there’s a breeze of warm air that takes over whenever his music is played, a promise of better days, blue skies, tingling skin, sultry evenings – all that hammy stuff. “

Burial – Antidawn
– uma solidão interminável.

Denzel Curry – Melt My Eyez See Your Future
i’m killing all my demons cuz my soul is worth redeeming.

Black Thought & Danger Mouse – Cheat Codes
– já tava excelente e daí aparece um DOOM que deixa o cara tristão.

macaroom – Inter Ice Age 4
– o salvador de manhãs mais competente do ano.

Kali Malone – Living Torch
– obrigado, Kali.

Warmth – Pale Sun
– vou escolher esse EP do prolífico Warmth, mas qualquer coisa que ele soltar vale a audição algumas vezes. ambient que soa como tu gostarias que ambient soasse.

Boris – W
– bons tempos pra ser fã de Boris. nos últimos anos, soltaram muito material. W é pura doidera Borisiana, indo de vibes kawaii-esquisito pro crowbar-de-final-de-semana de uma faixa pra outra. excelente.

Freddie Gibbs – $oul $old $eparately
– sem pares né, poder sonoro que deve ser experimentado de vez em quando.

Codeine – Dessau
– mais um disco perdido. 30 anos engavetado, uma obra prima slowcore intacta, do jeito que a banda queria. pancada.

Pan•American – The Patience Fader
– um ano que até teve disco do Pan•American bicho.

Eiko Ishibashi (石橋英子) – Drive My Car Original Soundtrack
– ideias imaculadas: e se a gente chamasse a Eiko Ishibashi pra fazer a trilha do nosso filme?

Ron Trent – What do the stars say to you
– aulas. é dar play e aprender a viver.

Flora Purim – If You Will
– coisa de quem sabe demais, minha nossa senhora.

Charles Stepney – Step on Step
– um monumento: “The music that makes up Step on Step was created by Stepney alone, in the basement of his home on the Southside of Chicago, sometime in the late 1960s and early 1970s”

Conway the Machine – God Don’t Make Mistakes
– um ano em que rappers exploraram suas tretas consigo mesmo em público. bom pra gente.

Laurent Bardainne & Tigre d’Eau Douce – Hymne au soleil
– um dia de sol em forma de disco.

Natalia Lafourcade – De Todas las Flores
– dizem que a Natalia escreveu o que viria ser esse disco enquanto passava por um coração partido. uma banda inacreditável (Marc Ribot! ) e toda a dor & beleza que tu conseguires aguentar.

Klaus Schulze – Deus Arrakis
– o ponto final de uma carreira imensa. um presente de Klaus antes de partir: ‘Deus Arrakis‘ became another salute to Frank Herbert and to that great gift of life in general.”

Messa – Close, 2022.

Aí sim papai. É disso que sou feito. Um dos efeitos colaterais de ter me criado ouvindo o clássico roquenrol, metal tr00 e inevitavelmente galões e galões de fuzz do nosso stoner de cada dia é que: aos trinta e cinco, meus ouvidos estão cansados. Difícil um disco de roque me empolgar de verdade hoje em dia (naquele sentimento Like A Virgin, geralmente acontece com discos mais extremos ou raras surpresas tipo aquele primeiro do FIDLAR, só pra dizer que não sou um total eremita fechadão). Mas tudo isso à parte, o Messa abre 2022 com um belo disco, que possivelmente morará nos meus players durante o ano todo (e que capa!). DOOOOOOOM :: https://messaproject.bandcamp.com/

Burial – Antidawn, 2022 [EP].

Desde Untrue (de 2007), o Burial não fez algo que eu curtisse muito. Não que seus trampos sejam ruins, mas a beleza incompleta e assombrada de Untrue foi tamanha, que eu sempre ouvia algo novo dele e ficava pensando porra não bateu aquele sentimento. Acho que era mais eu do que o Burial mesmo. Talvez eu precisasse ser mais paciente, talvez essa fosse a lição. Esse EP, Antidawan, tem sido o meu escudeiro em manhãs congeladas, dias de pouco sol e a trilha sonora perfeita para uma vida que sempre quis ter e estou tendo. O presente é um lugar massa. Mas utilizo as palavras do mago Warren Ellis para descrever melhor o EP: “Burial has often been about a solitary outsider’s experience of music, culture, its memory and its remains. But ANTIDAWN feels to me like the loneliest thing he’s ever done. It’s sitting on your own listening to the radio in the dark. It’s standing alone by the river at night while life and music pulses away a mile behind your back.” :: https://burial.bandcamp.com/album/antidawn-ep

2021: EVERYBODY HAD A HARD YEAR

(discos)

Arooj Aftab: Vulture Prince

  • como ser acalentado e assombrado pela voz de uma mulher ao mesmo tempo.

Don L: Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 2

  • toda vez que tenha uma crise de identidade, boto Don L. pra tocar. uma vida toda narrada desse jeito é uma baita vida.

Sons of Kemet: Black to the Future

  • chegar em casa depois de doze horas de trabalho, colocar Think Of Home e curar por um tempo.

Mdou Moctar: Afrique Victime

  • de Touareg até o infinito.

Little Simz: Sometimes I Might Be Introvert

  • vida longa à rainha. disco do ano*.

bvdub: Hard Times, Hard Hearts

  • o material que preciso.

Charley Crockett – 10 For Slim: Charley Crockett Sings James Hand

  • caminhos de um guardião de algumas tradições musicais norte-americanas.

Armand Hammer & The Alchemist: Haram

  • dureza como a vida.

nthng: Unfinished, 2021

  • intropecção e beleza. fundamental.

Skee Mask: Pool

  • aquele lance de ter o que se precisa, não o que se quer ter.

El Michels Affair: Yeti Season

  • assentando o sentimento. ou como os gringos dizem: A BANGER.

C. Tangana: El Madrileño

  • tostada con tomate no hanso, camisa aberta até o terceiro botão e toda a glória de se estar em madri.

Delvon Lamarr Organ Trio: I Told You So

  • toda vida nesse disco.

Czarface & MF DOOM: Super What?

  • esmerilhamento de sempre, todavia com camadas adicionais de melancolia. até mais, MF DOOM.

Black Pumas: Capitol Cuts

  • algumas bandas são pra se ouvir ao vivo.

The Lovecraft Sextet: In Memoriam

  • trilha sonora perfeita para ir ao mercado durante o apocalipse.

Mário Rui Silva: Stories From Another Time 1982-1988

  • o cara se conecta com raízes que nem sabia que tinha.

JPEGMAFIA: LP!

  • “Do I have a life?”

Chelsea Wolfe & Converge: Bloodmoon I

  • consigo imaginar uma cena em que alguém fala “então, esse disco é do converge com a chelsea wolfe” e eu fico em silêncio apenas balançando a cabeça sim, sim, SIM.

Febem: Jovem OG

  • quantos dias me foram salvos com aquela quebra em Sem Tempo: POTE DE DANONE NO PNEU ERA O ESCAPE

BADBADNOTGOOD: Talk Memory

  • o jazz que de vez em quando precisamos (eterno Verocai).

Kaatayra: Inpariquipê

  • salve.

Iceage: Seek Shelter

  • tarefa injusta fazer roquenrol hoje em dia. mas o Iceage achou um jeito. you get high, you get hurt.

Vince Staples: Vince Staples

  • um mestre. we dying broke or live with broken hearts.

Loscil: Clara

  • talvez o tema deste ano seja “um bando de mestres resolveu soltar material que prova que mesmo durante o fim do mundo, ainda tá tudo bem”.

Hello Meteor: The Oahu GP

  • num carro branco com as janelas abertas, olhando praias francesas de relance. um bom ano.

Jon Hopkins – Music for Psychedelic Therapy, 2021.

Faz algumas semanas, que sempre que tenho uma manhã particularmente difícil, ou coloco os discos do Andrei Machado ou esse do Jon Hopkins para tocar nos fones no caminho pro trampo. Terapia sonora. “Hopkins wanted to make something that faced the opposite direction, something egoless and introspective, made with total, raw honesty. It felt like time for a reset, to wait for music to appear from a different place, says Hopkins. That place ended up being Tayos Caves in Ecuador, where Hopkins went on a life-changing creative expedition in 2018.” :: https://jonhopkins.bandcamp.com/album/music-for-psychedelic-therapy

Pilori – À Nos Morts, 2020.

Já faz uma cota que vale acompanhar o que os franceses tem produzindo na categoria música extrema. À Nos Morts tem vinte e três minutos de excelente destruição em forma de tags como powerviolence, blackened crust e chaotic hardcore. Mas no fundo mesmo, é só um disco quase perfeito do metal nosso de cada dia. :: https://pilori.bandcamp.com/album/nos-morts

Atmosphere – WORD?, 2021.

I been complaining just a little too often
I should be thankful for these limited options
I got a full belly and something to cough on
Somebody tell me what the fuck is my problem?

Como gosto do Slug véio. Desde 2018 ele parece ter removido alguns filtros de si mesmo (tarefa invejável para um cara que já tinha poucos filtros desde sempre) e despejando canções após canções com um candor que primeiro te abraça, para logo depois fazer espaço para que tu também tente acessar esse mesmo tipo de sentimento. Coisa de mestre :: https://atmosphere.bandcamp.com/album/word

Charley Crockett – Music City USA, 2021.

Pardon me, mister I feel I’ve given up
So humor me and if you don’t mind
Could you fill my cup?
Somebody says you look under the weather
And I reply that I’ve been much better

Excuse me, please
The world just broke my heart

I don’t feel sorry for myself because
That would be too much

Sou um cara de sorte. Bem quando as coisas começaram a dar bem errado pra mim, me apareceu o Charley Crockett. No último ano, carrego os discos dele no celular como um precioso bem, capaz de mudar o curso do dia num apertar de botão. Um amigo que sabe exatamente o que te falar e como te falar. Sorte também é pegar Crockett em plena ascensão em sua carreira, com uma banda cada vez mais afinada e composições cristalinas que parecem brotar constantemente. Os últimos três discos do homem são 10/10, em uma discografia já pesada. Estamos todos cansados, mas parece que Charley está só começando. :: https://orcd.co/musiccityusa

Public Memory – Ripped Apparition, 2020.

Um esculacho darkwave, cheio de faixas quase perfeitas. O release é uma pérola: “Despite playing with our experience of time, Ripped Apparition isn’t simply an exercise in nostalgia. Nor does it retreat to an imagined world to come. The album evokes a degraded past and future, existing simultaneously, saturated with loss and uncertainty. Escape to another time is not an option here anyway; there is only the unrelenting present and an attempt to make sense of the dreams and fantasies we’ve built it on.” :: https://publicmemory.bandcamp.com/album/ripped-apparition

Bones – BURDEN, 2021.

Tava aqui na vibe BONES e me toquei que já faz um tempo, uns sete/oito anos, que ele fica na dele, soltando uma mixtape atrás da outra. Nos últimos dois anos ele descobriu uma vibe agressiva interessante – mas ao mesmo tempo ainda comete faixas bregas e emo até o osso. No conjunto da obra, a consistência é de se admirar. Um artista completo. SESH :: https://soundcloud.com/teamsesh/sets/bones-burden

Hailu Mergia & The Walias Band – Tezeta, 1975.

O tipo de disco que me faz querer acordar cedo só pra dar play: “This “Tezeta” album is one of those that have been impossible to find for nearly three decades. Sourced by Awesome Tapes From Africa and expertly remastered by Jessica Thompson, its unique and funky renditions of standards and popular songs of the day are so quintessentially Walias, flavorful and evocative. Hailu’s melodic organ, unashamedly front and center in every track, makes even the complex pieces accessible.” :: https://hailumergia.bandcamp.com/album/tezeta

Bongzilla – Weedsconsin, 2021.

16 anos desde o último disco do BONGZILLA. Tava vendo que o Amerijuanican é de 2005. Ali no começo das minhas experiências stonerísticas, apareceu o Bongzilla com seus riffs crocantes anunciando todo um novo gênero (sludge/stoner/doom crossover), vinhetas engraçadas nas músicas e um senso de humor maconheirístico fortemente brega. Pra um adolescente, perfeito. Mas dezesseis anos são dezesseis anos né. A banda virou um trio, eu virei pelo menos umas três pessoas diferentes pelo caminho. Mas nesse ano da pandemia, aqui nos encontramos, sem muito daquele senso de humor besta, sem muita moral, sem muitos amigos. Mas ainda comendo riff fincado na bagaceira no café da manhã. Obrigado, BONGZILLA :: https://heavypsychsoundsrecords.bandcamp.com/album/bongzilla-weedsconsin

Howie Lee – 7 Weapons Series, 2020.

Esse disco tava no meu servidor desde o ano passado, de vez em quando aparecia numa sessão de shuffle pegada, me fazendo parar pra prestar atenção no que tava tocando. Maluco Howie Lee. “Known for fusing traditional Asian sounds into the experimental clubbing field, Howie Lee pushes the boundaries in order to access a broader sound palette. Styles and elements are always mixed ingeniously; Tibetan chanting, middle-eastern zurna, syncopated drums, deep and modern bass, buoyant jazz chords – it’s difficult to know what to expect.” Ou seja, the good shit :: https://maloca.bandcamp.com/album/7-weapons-series

Charley Crockett – 10 For Slim: Charley Crockett Sings James Hand, 2021.

Coisas que acontecem. Ano passado, enquanto eu ouvia incessantemente o excelente Welcome To Hard Times do Charley Crockett, disco que salvou a minha vida pelo menos duas vezes, Crockett estava trabalhando com James Hand, eterno cantor-perdedor favorito deste canal, em um outro disco apenas usando canções de Hand (que, em mais uma bad trip do destino, faleceu em junho de 2020). O disco que saiu não só é um belo showcase para as composições de Hand, como para a voz e estilo melancólico de Crockett. 10/10 sofreria tudo que sofri de novo. Obrigado por tudo, Slim. :: https://orcd.co/10forslim

Indigo Sparke – Echo, 2021.

Porque as noites estão ficando cada vez mais longas e eu não sei o quanto mais conseguirei preservar esse tipo de sentimento :: “Indigo Sparke debut album ‘Echo’ co produced by Adrianne Lenker, is a deep and intimate ode to death, decay and the restless feeling of wanting to belong to something greater.” :: https://indigosparke.bandcamp.com/album/echo

Pappy Kojo – Logos II, 2021.

O tipo de disco que te faz sentir como se estivesse de carona em um jipe militar, cruzando um mercado de rua imenso em Dakar em busca de algo gelado para beber :: “This might come in handy sometimes. I go to Nigeria a few times a year for the khat business (It’s booming!). I know it’s more popular in other parts of Africa, but I know some honeys in Lagos and the food is palatable there. Anyway, when I’m making dangerous drug deals, if I’m banging shit like this, it might lend me some street cred. I never know when a particular song may save my life. So yeah, I’m giving this a thumbs up just on account that It could keep me alive.” :: https://www.dcleakers.com/pappy-kojo-logos-ii-full-album/

Armand Hammer & The Alchemist – Haram, 2021.

Esse tipo de disco, que aliás é o tipo que o The Alchemist tem produzido com intenção brutal nos últimos anos, vai acabar por ser um dos registros mais importantes de um período inflado e confuso do hip-hop. Talvez o disco do ano já, só por estar contemplando um caminho musical e lírico que quase não encontra pares. Assustador como faixa após faixa, só fica melhor, mais intrincado e ocasionalmente abre a janela para uns segundos de redenção. :: https://armandhammer.bandcamp.com/album/haram

Menahan Street Band – The Exciting Sounds of Menahan Street Band, 2021.

Mais um da série: estou ficando velho rápido demais. E pensar que o último disco da Menahan Street Band é de 2012. Foi trilha sonora fundamental para um ano que ficou marcado como O Ano Do Coração Partido para mim. Nada como um dia após outro dia, meus bróderes. A banda continua firmeza demais, entregando clássico após clássico. “Some tracks sound like they are from the future and the past all at the same time.” :: https://menahanstreetband.bandcamp.com/album/the-exciting-sounds-of-menahan-street-band

nthng – Unfinished, 2021.

nthng fazendo ambient é o tipo de coisa que me representa demais :: “just get this and play it and boom, you’re trapped inside my head kinda like that movie with J-Lo called The Cell. This shit is what life is all about, my dear friends.” :: (o disco inteiro ainda não tá no bandcamp mas tu sabes como encontrá-lo) https://lobstertheremin.com/track/unfinished

God Is an Astronaut – Ghost Tapes #10, 2021.

Daí percebo que escuto God is An Astronaut há quase vinte anos já. O primeiro deles é de 2002. Teve um período (bem longo até) em que post-rock era algo novo, fresh ainda não muito repetitivo e carregava a responsabilidade de expandir nossas noções de roquenrol até um suposto infinito. O God is An Astronaut era (e ainda é) uma das melhores bandas desse período. Tive caminhadas em Belém ouvindo The End Of The Beginning, me perdi em madrugadas em São Paulo com Far From Refuge nos fones, pedalei por ruas vazias de Frankfurt com Age of The Fifth Sun como o meu único amigo. Agora me trancafio em lockdowns Rotterdam com Ghost Tapes #10 me trazendo a paz que só bandas como essa conseguem me trazer. Vinte anos, bicho. É como se tivessem sido dois. Virei tiozão saudosista do post-rock :: https://godisanastronaut.com/album/ghost-tapes-10