Godspeed You! Black Emperor, 15/10/24 – Paradiso, Amsterdam.
Se tu fechas os olhos em alguns momentos de um show do GY!BE, o transporte é imediato (para onde, depende mais de ti). A banda age como uma orquestra colossal, tecendo camadas incontáveis de barulhos, drones, cordas e dedilhados, que ocasionalmente são interrompidas ou guiadas por uma bateria que pesa toneladas. Há um arco, uma história a ser contada no palco. As projeções, vindas de quatro projetores analógicos de 16mm, são pouco sutis: começa-se com imagens bucólicas e calmas, passando por imagens de cidades infinitas vazias, daí para metrópoles guiadas por corporativismo, culminando em indústrias queimando e se engolindo. A banda recusa ser iluminada, tocam quase no escuro, deixando a tela imensa em cima deles ter toda a luz. Se estamos nas 23:59 dos nossos tempos, o GY!BE quer deixar claro que está bem ali conosco, como os produtores de um som que, em seus melhores momentos, parece ser o som de tudo colapsando em si mesmo. Testemunhamos e celebramos nossa própria queda, de uma forma irrepreensivelmente bela. Assim como no show anterior que vi, a sensação é de que temos que continuar caminhando. A única saída parece ser manter a ternura e alguma esperança no bolso. Por uma segunda vez pude experimentar essa banda e ter, por algumas horas, a certeza de que pelo menos não estou completamente sozinho.