The Batman, 2022.

Não estava tendo um dia muito bom. Viver em um inverno infinito tem seus momentos baixos. Quase cancelei o ingresso, só pra ficar na minha. Mas acabei indo, me empurrando para algumas horas de entretenimento multimilionário apenas pra ver o que sentia. Não estava preparado para um Batman que se sentia tão merda e tão solitário quanto eu. Talvez seja o primeiro filme do personagem que tem narração em off. Talvez seja o primeiro filme que nos apresenta o Batman Deprê tão comum nas HQs. Bruce está no seu segundo ano como vigilante, vivendo em uma noite infinita, entrando e saindo de foco quando pensa nas consequências do que faz, ouvindo Nirvana todo soturno na Bat Garagem (entendo). Dolorido, falando baixo, quase murmurando, deficiente em vitamina D e ainda levando umas porradas bem dadas. A vida de um bilionário vigilante é uma dureza. O filme é de uma estética inclemente, trazendo a Gotham gótica em todo o seu esplendor. É como se os filmes do Tim Burton tivessem cruzado com alguns do Scorsese. Batman ainda não se tornou um mito, caminha entre as pessoas como se nada tivesse acontecendo, dirige veículos arromba-ouvido, leva tiro no peito como se fosse essa a intenção. Metal pesado. O broder tá tentando reverter o fluxo da cachoeira na base do soco. Apesar da melancolia grudenta de Bruce, o filme todo se desdobra mais como uma ode à Gotham, uma cidade suja, cheia de obras abandonadas, passando por uma temporada de chuva que parece não querer terminar. As cenas que usam o anoitecer/amanhecer como pano de fundo são muito bonitas, assim como o som distinto dos passos do Batman em algumas cenas, ou a textura do couro que a Selina usa. Por momentos, esqueci completamente do Riddler e suas tretas. O filme sucede em ser um ataque sensorial, usando ruído, escuridão e silhuetas para se firmar. Não me senti tão melhor quando o filme acabou, mas gostei de ter ido.