Soulcrusher, 10-11/10/25 – Doornroosje, Nijmegen.

Tirar uns dias de folga pra ir pra um festival de metal estilo, como um amigo descreveu, emotional damage. Inicialmente até estava mais empolgado pelos dias de folga do que pela torrente de barulho que tinha planejado prestigiar (a temperatura começou a cair nas últimas semanas, tive um verão fully booked e sinto os indícios preliminares de mais uma temporada de trevas inevitáveis e melancolia fundamental).

No Doornroosje, dia um: Milhares de bróders de preto em uma sexta nublada. Todo mundo vestindo seu merch do Sunn O))), Amenra ou daquela banda que tu tens certeza que ninguém mais manja. Quando Wren começou a tocar, abrindo o festival, sabia que estava no lugar certo. A treta interior de cada um, encontrando-se  aos poucos com a treta das bandas no palco. Um lugar para experimentar os sons que maltratam os nossos falantes no volume adequado (ou seja alto bagarai, fazendo o prédio inteiro tremer).  

Dá-lhe Guiltless (nenhuma luz acesa no palco, tudo tomado por fumaça e distorção), Telepathy (baita baterista), Imperial Triumphant (uma banda que se diverte fazendo uma liga torta, tocaram fogo num trompete e tudo) e, pra mim, os headliners do dia: Bongripper. Casca-grossa, trilha sonora pra mastigar blunts. O doom começou a ecoar, o barulho dobrou-se em camadas por cima de camadas. Quando olhei ao redor, todo mundo bangeava no tradicional ritmo lento e pastoso do stoner doom – ao mesmo tempo fazendo aquela careta de quem acabou de mastigar um quilo de fuzz. Foi como se a banda te fixasse no chão, com riffs e riffs te afundando cada vez mais. Aí de vez em quando davam um respiro, só pro fuzz voltar ainda mais estúpido. Excelente, cinco estrelas. Comprei a camiseta e tudo. Queria, em todo começo de inverno, poder presenciar esse tipo de coisa. 

No segundo dia, mais em casa caminhando pelos palcos, sorvando um Primitive Man que tocava pelos corredores aqui e ali, encarei Pothamus (boa surpresa do festival), um pouco de Fange (tocaram no palco menor, ninguém se mexia. feliz em ver eles assaltando todo mundo com aquele industrial stoner ignorante deles) e daí encerrei o festival pra mim com Oranssi Pazuzu e seu metal cáustico, totalmente errado, cheio de barulhos mais altos do que parecia permitido.

Uma bad trip perfeita. Que banda, dona de uma sonoridade tão ruim (no bom sentido) que tu ficas até cabreiro. Baita festival. Caminhando por Nijmegen depois de toda essa depressão em forma de música, não me sentia muito melhor do que dois dias antes. Entretanto, sabendo que a treta é infinita, nada como um dia após outro dia.