North Sea Jazz 2022, 8/7 – Rotterdam.

Numa sexta de sol e vento, em um atípico dia perfeito de verão holandês, o North Sea Jazz teve o seu primeiro dia (de três). Cheguei no final da tarde, sob sol excelente (o cara aprende a gostar de sol novamente) e esperei Marcus King tomar o palco principal do festival (coberto). Banda de barbudos, tocando alto e com categoria de quem sabe demais. Um baita show, daqueles que te faz pensar que esse broder tem só 26 anos e comanda uma banda assim. Não chegou a emocionar, mas todo o poder estava na distorção e em momentos como a versão de uns quinze minutos de Hoochie Coochie Man que eles mandaram. E eu achando que tinha me aposentado de festivais e shows grandes, de repente me senti confortável com aquele mar de gente, indecisa entre a dezena de palcos do festival, perambulando constantemente.

Caminhando entre os corredores limpos, refrigerados e cheios de stands de comida do centro de convenções Ahoy, demorei pra achar o palco menor onde Theo Crocker estava para começar a comandar a vibe. Todo mundo sentadinho (um festival onde todos os palcos tinham assentos, todos) e eu acabei ficando no melhor lugar, atrás dos monitores do projetista. Condiz com a minha condição de Senhor não ir muito pra frente do palco em shows hoje em dia, ficar ali pelas arestas, perto do pessoal da graxa, que sabe onde o som bom está batendo. Ver shows mais pelo som do que pelo que estão fazendo ali no palco (envelhecer é massa). A banda de Theo é outra banda absurda, com um baterista que do nada engatava um drum’n’bass analógico de forma aveludada, dando potência ao som suave, límpido e viajante que Theo extrai do seu trompete. Trilha sonora para se caminhar em um planeta estranho (ou para se caminhar em um país estranho). O som do trompete do Theo certamente é top cinco experiências que vivi nos últimos tempos.

Comi um sanduíche indonésio de porco na panela, um hotdog chamado RATDOG (um hotdog normal mas daí enrolado em bacon e passado na chapa), fritas com maionese, tomei água e coca quente (ah, festivais), fiquei uma meia hora procurando o palco onde BADBADNOTGOOD e quando finalmente entrei, dei sorte de subir uma escada lateral e me vi em um mezanino confortável e com som potente batendo; quando a banda começou mermão, o lugar inteiro tremeu. De longe a banda mais barulhenta que vi no dia, o BADBADNOTGOOD sem perdão soltou seu punk jazz sobre todos os presentes (expulsando grande parte do público jovem vibe chill, claramente não preparado para aquele atordoamento todo) e entregou um show que recalibra a cabeça do cara na base do barulho e no solo perfurante de sax. Uma projeção em 16mm sobre a banda forçava o palco a ficar escuro, o que parecia agradar os canadenses. O baterista sentava a mão como se estivesse tocando hardcore (com um groove aqui e ali, só pra contrariar) e o baixista fez uns lances que me fez pensar se era de propósito ou o som do palco não tava sabendo processar o que ele queria fazer. Em algum momento, alguém da banda falou ao microfone (na escuridão não dava pra ver quem fazia o quê) que estavam muito felizes em estarem ali naquela noite, tocando em um dia cheio de artistas que eles admiram e que tudo que gostariam que a gente experimentasse fosse amor, compaixão e beleza atrás da música deles. Anos atrás eu mentalmente soltaria um “sae dae mano” e nem prestaria muito atenção. Mas envelhecer é massa, concordei, apreciei e me senti um sortudo também.