jeen-yuhs: A Kanye Trilogy, 2022.
Por um período de tempo, ali naqueles primeiros anos em que me introduzi ao hip-hop, achei que Kanye era um artista que demoraria para eu realmente entender. Havia algo de indescritível e ilimitado em discos como My Beautiful Dark Twisted Fantasy. Um comentário brutal sobre si mesmo, sobre o estado da música e da cultura naquele 2010. Hoje em dia, Ye encontrou seus próprios limites. Não que isso seja ruim, acontece com bastante frequência aliás. Ainda acredito que em vários momentos ele estava fatalmente antecipando tendências e momentos culturais com precisão anormal. Assistir jeen-yuhs é quase uma experiência masoquista: difícil acompanhar um artista em ascensão que não consegue ainda materializar a sua arte nos seus próprios termos – apesar dele só falar sobre isso. A frustração de Ye em não ser quem acha que deve ser é aparente. Chega a irritar, quem é esse cara pra se achar tudo isso? Aí o documentário pula alguns anos e nos entrega Kanye West full power: ele chegou lá. Aí que desanda. Difícil especular o que Ye estava tentando alcançar, mas é evidente que ele chegou lá e pagou um preço por isso. O documentário vira um filme triste, confuso, repetitivo. Mostra que os limites de Ye foram antecipados por ele mesmo, quase que inconscientemente.