Black Bird, S01E01-03.

Tem dias que viram um desastre completo e tu consegues notar cada mudança sutil, que em incrementos te levam à ruína. Black Bird começa com um dia desses para James Keene (Taron Egerton, que demora um pouco pra preencher o espaço do personagem, mas quando engata, vira uma daquelas atuações quase míticas), um dealer de Chicago esperto demais para o próprio bem, que acaba engolindo uns dez anos de prisão. Para comutar sua sentença, uns federais oferecem um acordo do capeta: se realocar para uma prisão infernal no Missouri, onde o serial killer Larry Hall (Paul Walter Hauser, bicho completamente solto, aí sim mítico demais, como se alguém tivesse dito calmamente pra ele “agora sim pai, vai lá e seja doentio como tu quiser, o gol é teu”) se encontra e está prestes a ser solto na real pois nunca acharam algum corpo para colocar na conta dele. Fica a cargo de James extrair a localização de algum dos crimes de Larry. Doidera. Se não tivesse sido verdade (a minissérie é baseada no livro autobiográfico de Keene). Parte o coração ver o Ray Liotta também, que faz o pai ex-policial de Keene (talvez sua última atuação? que triste constatar isso ao assistir essa série “é essa a última vez que verei algo novo do Ray Liotta?”). Aliás, a história toda te parte o coração. Cortesia da direção estoica do belga Michaël R. Roskam (do excelente The Drop – que aliás é um dos últimos trampos do James Gandolfini, que tendência macabra, Roskam), que consegue dar peso à cenas que nós já vimos dezenas de vezes, sem se tratando de dramas e thrillers em prisões. Que nós jamais tenhamos dias tão ruins quanto os de James Keene.