Avatar: The Way of Water, 2022.

Voltei a jogar video games depois de muitos anos sem um console ou PC decente. Tenho um buraco de uns oito anos na minha trajetória como jogador, precisamente a era em que os jogos pularam para além do full hd e os fps chegam a bater mais de 200. Acabou que, mesmo quando jogo um Red Dead Redemption II (um jogo “velho”), fico embasbacado com a beleza e detalhismo do cenário todo. Passo longos períodos de tempo buscando mirantes, entrando em áreas verdes e sei lá, pescando. Esqueço que é um jogo violento. Que em algum momento alguém me fará usar alguma das meia dúzia de armas que carrego por default. Chega a ser uma surpresa, ter que atirar am alguém depois de passar uma hora subindo uma montanha. Mas: sem conflito, não tem jogo. Assistindo Avatar, senti o mesmo que sinto quando jogo games lindos: uma pena que toda essa beleza seja temporária porque, inevitavelmente, o pau vai comer. E é aí que Cameron mostra um pouco de descompasso. O filme inteiro é lindo, mas a ação quase sempre cai numa vibe Disney. Num mundo pós-John Wick/The Raid, a violência estética virou uma outra forma de arte. O conflito físico é um balé grotesco (e talvez até profundo). Dentro de toda a beleza estética, as capacidades técnicas e a pura força bruta de fazer um filme com centenas de simulações hiper-realistas de água do mar (“se liga em quanto render eu consigo bancar”), o filme brilha e empurra vários setores da indústria cinematográfica a um novo patamar (o trailer de um Ant Man que passou antes do filme parece um trabalho de YouTuber perto de Avatar). Algo que não acompanha essa evolução toda, é a sensibilidade da história em si, que chega a ser rasa – mesmo que os personagens não sejam (doidera que esses seres em 3D sejam tão familiares). Não se pode ter tudo, claramente. Mas que tu possas passar meia hora em Pandora antes do diabo saber que estás morto.