Magnolia, 1999 [35mm].

Antes: eu tinha 12 anos, vasculhava as locadoras de Castanhal, interior do Pará. Com uma revista Set na mãos, ia pegando tudo que os resenhistas e colunistas falavam sobre. Peguei a fita VHS dupla de Magnolia e me tranquei em meu quarto, que continha o luxo de um videocassete velho e uma TV só minha. Era onde eu triturava filmes, dias a fio, toda noite. Não raro, os filmes me trituravam também. E mesmo imberbe, tentava prestar atenção (tinha algo nesses filmes). Talvez Magnolia foi um dos que me apresentou o caos e pouco sentido que a existência tem. Desde então, esse sentimento nunca me abandonou. Será que eu já chorei assistindo Magnolia?
Agora: eu tenho várias décadas a mais de vida. Entrei em um sábado no Kino, um cinema que tem um projetor raro, de película. Tão fazendo The Complete Paul Thomas Anderson. O filme começa e parece querer me triturar de novo, mesmo após todo esse tempo. Deixei. O print de 35mm brilhava como só filmes dessa época conseguem. O filme me atravessa, intenso. Tudo que não sabia, tudo que não entendia, me atinge agora. Mudei. Tendo vivido algo mais, o filme se abriu de forma diferente (e que saudade eterna do Philip Seymour Hoffman, e que incrível a Juliane Moore, e que doidera é viver). O caos e pouco sentido da existência são a minha casa agora. Chorei assistindo Magnolia.