High Fidelity, S01.

Assisti o filme de High Fidelity mais vezes do que gosto de admitir. Acho que a primeira vez foi em 2001. Tinha 14 anos. Fui ler o livro só muitos anos depois (mais fácil piratear filme). Naquela época, mesmo entendendo muito menos de mundo do que hoje, já dava pra saber que aquilo tudo retratado ali era algo em extinção, por mais que eu quisesse que não fosse.

Lojas imensas de discos, caras que tem um emprego part-time, moram em apartamentos espaçosos em capitais, gastam suas noites descobrindo novas bandas pelos bares da cidade.

Velho, pra um moleque em Castanhal no Pará, aquilo tudo era ficção científica. Mesmo aos 14 anos sem nem ainda ter tido um coração partido – ou um top discos favoritos. Contudo, o desejo de ter broders que fazem listas aleatórias contigo todos os dias, que zoam tuas referências, completam com outras e ainda conseguem ser engraçados no processo: esse lance sim eu achei que seria possível de alcançar. E meio que foi, em alguns momentos da minha adolescência tardia.

Uma releitura do livro, ali por 2009, mostrou que era hora de largar um pouco aquele osso. Rob é um fraco, o filme/livro são horríveis no jeito que tratam alguns personagens e as referências musicais zeraram muito mais rápido do que imaginei. Arquivei o filme e o livro junto com aquele DVD, que imita uma caixa de sabonete, do Fight Club.

Ainda faço listas, ainda curto uma proseada pegada na prepotência de quem sabe demais sobre edições de discos e tal. Essas coisas ficaram em mim, pro bem e pro mal. Mas o resto da obra foi embora. Li outros livros do Hornby, curti alguns. Envelhecemos.

A série do Hulu é meio doidera. Primeiro porque existe. Segundo porque passa um pano em vários pontos fracos do filme/livro. Só que, se High Fidelity já não crível em 2000, em 2020 é tão realista quanto um anime. Mas daqueles slice of life bem específicos e encantadores, manja. Ainda tem um tutano massa ali. Piadas boas, alguns atores dançando muito em cima do material. A música é boa, rola um update brutal em várias referências. Funciona bem, apesar de tudo.

E aí cancelaram a série, claro.

Talvez a próxima encarnação de High Fidelity seja melhor ainda. Mesmo que eu não consiga mais assistir o filme ou ler o livro, pelo menos sei que tem essa série para garantir uma eventual reassistida massa. Pra me consolar um pouco em tempos de coração partido. Se a Rob da série pode ser melhor do que o Rob do filme, deve ter alguma chance pra mim, também.